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Acompanhe a trajetória do repórter que mudou o conceito de reportagem investigativa, desvendando escândalos e desafiando o poder.
Prepare-se para mergulhar na história de um dos maiores nomes do jornalismo mundial. Um documentário meticuloso acaba de trazer à tona a vida e a carreira de Seymour Hersh, um verdadeiro bastião da imprensa livre, cujas reportagens impactaram governos e revelaram verdades que poucos ousavam tocar.
Este perfil, que muitos já consideram um dos mais relevantes sobre o tema, convida o público a uma jornada pelos bastidores de grandes escândalos, mostrando a coragem e a obstinação necessárias para fazer a diferença no mundo da informação.
A obra, intitulada 'Seymour Hersh: Em Busca da Verdade', é um retrospecto minucioso da carreira de um profissional que redefiniu o conceito de reportagem investigativa, conforme destacado por Giancarlo Galdino em sua análise.
O Massacre de Mỹ Lai: A Verdade Revelada por Hersh
A História foi feita diante dos olhos de Seymour Hersh quando ele denunciou o Massacre de Mỹ Lai, um dos episódios mais sombrios da Guerra do Vietnã. Em 16 de março de 1968, soldados americanos assassinaram cerca de quinhentos civis, a maioria mulheres, crianças e idosos, nas aldeias sul-vietnamitas de Mỹ Lai e My Khe.
O empenho de Hersh em expor os abusos das tropas de Lyndon B. Johnson foi monumental. O impacto negativo do episódio foi tão grande que o presidente Johnson acabou não disputando a reeleição, demonstrando o poder de uma reportagem bem apurada.
No documentário 'Seymour Hersh: Em Busca da Verdade', a diretora Laura Poitras e o produtor Mark Obenhaus formulam hipóteses para explicar o sucesso de Hersh, um personagem que é, ao mesmo tempo, tão comum e tão raro em sua determinação.
Hersh, à época, não sabia que sua investigação jogaria luz sobre um dos maiores escândalos da América, partindo de um obscuro tenente do Exército. William Laws Calley Junior estava à frente do pelotão de infantaria que trucidou a população de Mỹ Lai.
A obstinação do jovem Hersh, então um freelancer da Associated Press, foi crucial. Ele não se conformava em apenas copidescar os releases do Pentágono em textos curtos, pois sentia que havia muito mais a ser explicado do que o governo queria admitir.
Desafiando o Poder: Kissinger Contra o Jornalista
Hersh tirou os véus das narrativas oficiais e começou a incomodar figuras poderosas. Henry Kissinger, o então todo-poderoso secretário de Estado americano, estava decidido a caçar o 'comunista' Hersh, da maneira mais discreta possível.
Isso ocorreu porque a matéria de Hersh já rodava o mundo, expondo a verdade por trás do massacre. Dois anos mais tarde, esse trabalho renderia a ele o Pulitzer de Reportagem Internacional, um dos maiores reconhecimentos do jornalismo.
Sua contratação pelo prestigiado 'New York Times' esticou ainda mais a corda, dando-lhe uma plataforma ainda maior para suas investigações. Hersh provou que o jornalismo investigativo pode, e deve, questionar as versões oficiais.
Laura Poitras e a Intimidade do Perfil
A diretora Laura Poitras, vencedora do Oscar de Melhor Documentário por 'Citizenfour', um perfil de Edward Snowden, o delator da NSA, a agência americana de segurança, não se intimidou ao abordar Hersh.
Poitras leva seu biografado por caminhos dos quais ele se lembra com doçura, mas sem jamais deixar-se levar pelas paixões. A aproximação entre Hersh e Poitras é também mediada por atrito, mostrando a crueza do processo.
A certa altura, Hersh parece furioso ao verificar que a diretora conseguiu a identidade de algumas de suas fontes, chegando a ameaçar interromper as conversas. Essa tensão é parte da autenticidade do documentário.
Mesmo assim, Poitras consegue extrair de Hersh declarações de amor à sua esposa, a psicanalista Sarah, figura central em sua resistência e apoio ao longo de sua notável carreira no jornalismo investigativo.
O Legado Inabalável do Jornalismo Livre
Seymour Hersh se conserva um ardoroso entusiasta da imprensa livre, um dos grandes legados da Revolução Francesa, dada pela redação do artigo 11 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada em 26 de agosto de 1789.
Este documentário não apenas revisita momentos cruciais da história, mas também celebra a importância contínua do jornalismo investigativo como pilar da democracia e da transparência.
Hoje, Hersh continua ativo, agora no Substack, uma plataforma para criadores de conteúdo, e sem planos de aposentar-se. Sua jornada é um testemunho da persistência e da crença inabalável no poder da verdade, um exemplo para todos que buscam entender o mundo.
