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Telescópio James Webb flagra explosão estelar na infância do cosmos, a apenas 650 milhões de anos após o Big Bang, revelando detalhes cruciais sobre as primeiras estrelas.
Em um avanço extraordinário para a astronomia moderna, o Telescópio Espacial James Webb conseguiu registrar a explosão de uma estrela massiva, uma supernova, ocorrida quando o Universo tinha apenas cerca de 650 milhões de anos. Trata-se de um período extremamente inicial da história cósmica, frequentemente descrito como a “infância” do Universo.
A descoberta oferece uma oportunidade inédita de observar, de forma direta, como as primeiras estrelas nasceram, evoluíram e morreram. Captar uma supernova tão antiga era algo considerado improvável, já que esse tipo de evento é breve e imprevisível, e o James Webb não é, em regra, dedicado à busca de fenômenos transitórios.
O achado foi descrito em estudo publicado na revista científica Astronomy & Astrophysics e divulgado pela CNN Brasil, sendo tratado por especialistas como um verdadeiro golpe de sorte científico, com potencial para redefinir o entendimento sobre as primeiras gerações de estrelas.
Um flagrante improvável do Telescópio James Webb
O Telescópio Espacial James Webb foi projetado para observar o Universo principalmente no infravermelho. Essa capacidade permite que ele enxergue além da poeira cósmica e detecte a luz extremamente antiga de galáxias formadas logo após o Big Bang. Com a expansão do Universo, essa luz chega até nós “esticada”, fenômeno conhecido como redshift.
O foco principal do Webb é a observação contínua de galáxias primitivas e da formação dos primeiros aglomerados estelares. Por isso, registrar uma supernova, que é um evento explosivo e de curta duração, não fazia parte do plano original de observação.
Neste caso específico, porém, o telescópio acabou apontado para a região exata do céu onde uma estrela havia acabado de explodir, permitindo que os astrônomos captassem informações preciosas antes que o brilho desaparecesse completamente.
Raios gama como faróis do universo primitivo
O elemento decisivo para essa descoberta foi a detecção de uma explosão de raios gama, conhecidas como GRBs. Esses eventos funcionam como verdadeiros faróis cósmicos, emitindo uma quantidade colossal de energia em poucos segundos, cuja luz viaja por bilhões de anos até alcançar a Terra.
A explosão específica, identificada como GRB 250314A, veio de uma distância recorde. Ao perceberem a intensidade do fenômeno, os pesquisadores acionaram rapidamente um programa especial de observações de oportunidade, redirecionando o James Webb para a região do céu onde o brilho residual ainda podia ser observado.
Essa agilidade é essencial, pois eventos transitórios como supernovas e GRBs desaparecem rapidamente. Se não forem registrados no momento certo, as informações se perdem para sempre.
Uma janela rara para a Era da Reionização
Encontrar uma supernova na chamada Era da Reionização é algo comparado pelos próprios cientistas a “ganhar na loteria”. Esse foi o período em que as primeiras estrelas e galáxias começaram a iluminar o Universo, dissipando o nevoeiro de hidrogênio neutro que dominava o espaço após o Big Bang.
Durante essa era, os objetos celestes eram extremamente fracos e difíceis de observar. Andrew Levan, autor principal do estudo e pesquisador da Universidade Radboud, na Holanda, destacou a importância do feito ao afirmar que a observação mostra que é possível identificar estrelas individuais quando o Universo tinha apenas cerca de 5% de sua idade atual.
A explosão de raios gama longa associada à supernova funcionou como um verdadeiro alarme cósmico, indicando aos cientistas exatamente onde procurar. Para surpresa da equipe, as estrelas primordiais aparentavam se comportar de forma muito semelhante às estrelas que explodem nos dias de hoje.
Supernovas antigas e modernas surpreendentemente parecidas
Uma das revelações mais impactantes do estudo foi constatar que a supernova observada no início do Universo se assemelha, em muitos aspectos, às supernovas modernas. Esperava-se que estrelas tão antigas apresentassem características radicalmente diferentes.
No começo do cosmos, as estrelas eram, em geral, muito mais massivas, tinham vida curta e quase nenhuma presença de elementos químicos pesados, sendo compostas basicamente por hidrogênio e hélio. Ainda assim, o comportamento da explosão observada não diferiu drasticamente do padrão conhecido atualmente.
O coautor do estudo, Nial Tanvir, da Universidade de Leicester, afirmou que a equipe iniciou a pesquisa sem expectativas fechadas, justamente por se tratar de um objeto formado há cerca de 13 bilhões de anos. O resultado, porém, indicou uma surpreendente continuidade nos mecanismos físicos das supernovas ao longo do tempo.
Os pesquisadores ressaltam que os dados analisados ainda são limitados, baseados em poucos pixels captados pelo James Webb. Por isso, novas observações serão fundamentais para confirmar e aprofundar essas conclusões.
Próximos passos e novas observações
O sucesso da descoberta garantiu à equipe tempo adicional de observação com o Telescópio James Webb. A próxima etapa envolve capturar o brilho residual de futuras explosões de raios gama no infravermelho, com o objetivo de obter uma espécie de “impressão digital” química das galáxias primitivas.
A meta é transformar cada explosão efêmera em uma ferramenta científica capaz de sondar o passado distante do Universo. Para confirmar definitivamente que o brilho observado pertence, de fato, a uma supernova, estão previstas observações de acompanhamento em 2026.
Essas análises permitirão comparar imagens da explosão com registros posteriores da mesma região, já sem o brilho estelar, garantindo que o fenômeno não foi confundido com outras fontes de luz. Caso confirmada, a descoberta consolida o James Webb como a principal ferramenta para desvendar os segredos das primeiras estrelas e dos primórdios do cosmos.
