Como evitar o erro que pode comprometer a propriedade rural: guia para produtores

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Gestão financeira pouco criteriosa e a contratação de garantias inadequadas colocam em risco a propriedade rural de muitos produtores. Com o cenário atual de crise no agronegócio, uma decisão mal tomada pode custar a fazenda e anos de legado familiar. Este artigo mostra qual é o erro fatal que está ameaçando os produtores rurais e como você pode evitá‑lo com planejamento, análise e orientação jurídica.


1. O contexto crítico do agronegócio

  • A inadimplência do crédito rural para pessoas físicas chegou a 5,14% em agosto de 2025 — frente a apenas 0,94% em agosto de 2023.

  • As projeções para as safras 2025/26 apontam quedas expressivas: por exemplo, o recuo previsto para a soja é de 36,7% e para o milho chega a 92%.

  • Em Mato Grosso, 20% dos produtores da soja tiveram prejuízo em 2022/23 e 65% dos produtores de milho em 2024/25 enfrentaram perdas.
    Esse cenário exige cautela: endividamento elevado + queda de rentabilidade = risco real.


2. O erro fatal: renegociar dívidas com garantia de alienação fiduciária

Um dos erros mais graves observados é quando o produtor aceita renegociar dívidas oferecendo alienação fiduciária sobre a propriedade rural como garantia.
O que isso significa?

  • A propriedade legal do imóvel passa ao credor (ex: banco) enquanto o devedor continua na posse.

  • Em caso de inadimplência, o credor pode consolidar o bem extrajudicialmente com pouca margem de defesa.

  • Mesmo com recuperação judicial, essa garantia fiduciária pode ser executada fora do processo principal.
    Para o produtor rural, isso equivale a oferecer a fazenda como risco máximo — em troco de uma renegociação feita às pressas.


3. Quais cuidados adotar antes de assinar?

Verifique criticamente os seguintes pontos antes de fechar qualquer contrato:

  1. Lucro operacional real: não se confunda com faturamento ou fluxo de caixa – inclua depreciação, pró‑labore, todos os custos.

  2. Projeções para 3‑5 anos: considere cenários pessimistas (redução de preço, aumento de custo, quebra de safra).

  3. Taxa de juros vs lucro operacional: se a taxa da dívida for 20% ao ano, seu lucro precisará superar isso — caso contrário, a dívida crescerá.

  4. Cláusulas contratuais: cheque vencimento antecipado, forma de capitalização de juros, prazo, garantias.

  5. Tipo de garantia exigido: a alienação fiduciária é a mais arriscada; avalie opções como hipoteca, penhor de safra.

  6. Simulação de cenários adversos: se houver queda de 30% no preço ou quebra da safra, a renegociação ainda será viável?

  7. Consultoria especializada: advogado e contador focados no agronegócio podem salvar você de um erro.

  8. Plano B definido: o que será feito se não der certo? Venda de ativos, arrendamento, recuperação judicial?


4. Alternativas à renegociação impulsiva

Antes de aceitar condições que colocam sua propriedade em risco, considere opções:

  • Programas governamentais que renegociam dívidas com benefícios especiais.

  • Negociações profundas com instituições financeiras apoiadas por dados e projeções realistas.

  • Venda estratégica de ativos não‑essenciais (talhões menos produtivos, equipamentos subutilizados) para gerar caixa e reduzir exposição.

  • Recuperação judicial preventiva — não é fracasso: pode proteger a propriedade e a atividade produtiva.


5. Por que muitos produtores caem nessa armadilha?

  • Pressão de bancos para assinatura rápida (“condição vale até amanhã”).

  • Taxas de juros elevadas sem análise adequada da viabilidade.

  • Pouca familiaridade com os efeitos jurídicos da alienação fiduciária.

  • Esperança de “melhor safra” como base de decisão — em vez de dados concretos.


Conclusão

A propriedade rural é fruto de trabalho, sacrifício e legado familiar — sujeitá‑la a garantias de alto risco por decisões impulsivas pode significar perder tudo. Antes de assinar : conheça seus números, simule cenários adversos, recuse garantias que colocam a fazenda em risco e busque orientação de especialistas. Agindo com planejamento, você transforma renegociações em ferramentas de proteção — e evita que o que era solução vire cilada.

Avalie hoje mesmo sua carteira de dívidas, reúna os dados financeiros dos últimos três anos e procure um advogado especializado em agronegócio. Sua propriedade agradece.

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