‘Uma Batalha Após a Outra’: A série da HBO Max que desvenda o esgotamento da revolução e o preço brutal da radicalização.

‘Uma Batalha Após a Outra’: A série da HBO Max que desvenda o esgotamento da revolução e o preço brutal da radicalização.

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A nova produção da HBO Max 'Uma Batalha Após a Outra' mergulha nas complexidades do ativismo, revelando como a radicalização e o esgotamento da revolução moldam vidas e transformam relações familiares em um cenário de conflito constante.

A série “Uma Batalha Após a Outra”, disponível na HBO Max, não se propõe a ser uma narrativa convencional. Desde seus primeiros momentos, ela desafia o espectador com uma abordagem quase agressiva, apresentando cenas que parecem deliberadamente desorganizadas e um ritmo que flerta com o descuido.

Não há intenção de acolher quem assiste, mas sim de provocar um imediato estranhamento. A sucessão de episódios sem contexto claro, a sexualidade exibida sem mediação afetiva e uma constante sensação de improviso criam um ambiente propositalmente incômodo, mergulhando o público no universo da radicalização e suas consequências.

Essa escolha inicial não é um erro, mas um gesto de recusa, como se o diretor Paul Thomas Anderson dissesse que não está interessado em conduzir pela mão, e sim em forçar o olhar a permanecer atento, mesmo quando tudo parece excessivo ou mal resolvido, conforme análise divulgada.

A Abertura Desafiadora e a Recusa em Seduzir

O filme se inicia de maneira quase brutal, com cenas que parecem propositalmente caóticas e uma encenação que beira o grotesco. Essa abordagem visa desorientar o espectador, mergulhando-o em um universo onde a revolução e seus atores são apresentados sem filtros ou suavizações.

A ausência de um contexto claro para os eventos e a exibição crua de temas como a sexualidade e a violência contribuem para um clima de desconforto. Essa estratégia de Paul Thomas Anderson busca um engajamento mais profundo, exigindo que o público preste atenção mesmo diante do que poderia ser interpretado como excesso ou falta de polimento narrativo.

Bob e o Esgotamento do Ideal Revolucionário

Leonardo DiCaprio interpreta Bob, um personagem que já ultrapassou o auge de suas convicções revolucionárias. Ele lidera o grupo French 75, mas não como um visionário, e sim como alguém preso a uma ideia que já não consegue sustentar plenamente, evidenciando o esgotamento da revolução em sua essência.

Bob é um homem contraditório, falho e, por vezes, até ridículo. Seu discurso político se torna secundário diante de sua complexa relação com Willa, sua filha. O cerne do conflito não reside apenas no embate entre a revolução e o Estado, mas na tentativa desesperada de Bob de conciliar a militância com a paternidade.

DiCaprio acerta ao não transformar Bob em um herói ou mártir. Ele é retratado como um homem cansado, aprisionado por um ideal que já lhe cobrou um preço alto demais, refletindo o peso da radicalização pessoal.

Perfidia, o Coronel Lockjaw e a Ausência de Afeto

Teyana Taylor constrói Perfidia Beverly Hills como uma presença quase incendiária, que não demonstra fissuras visíveis em sua dedicação à causa. Diferente de Bob, sua entrega à revolução é total, o que inclui o abandono de qualquer resquício de vida privada, um exemplo extremo de radicalização.

Perfidia não negocia, não recua e não suaviza suas posturas, o que torna sua relação com Willa profundamente problemática, mesmo que o filme evite julgamentos diretos. Há algo perturbador na forma como a maternidade é tratada como um obstáculo, e não como um vínculo afetivo, questionando o preço humano de tal entrega.

Sean Penn domina cada cena como o coronel Steven Lockjaw, com uma atuação marcada pela contenção, e não pelo excesso. Lockjaw não grita nem ameaça abertamente; ele observa, calcula e avança com a certeza de quem se sente autorizado a agir. Sua perseguição ao French 75 é movida pelo controle, não pela justiça, representando a face mais fria e assustadora da autoridade estatal.

Willa: A Disputa pelo Futuro e o Legado da Radicalização

Chase Infiniti oferece a interpretação mais sensível do filme, dando vida a Willa, o elo entre dois mundos que insistem em se destruir mutuamente. Ao longo da narrativa, acompanhamos seu crescimento e a progressiva consciência do ambiente violento que a cerca, um produto direto da **radicalização** de seus pais.

Willa observa, aprende e absorve mais do que os adultos percebem. O filme sugere que o maior campo de batalha não está nas ruas ou nas ações armadas, mas na formação dessa jovem, forçada a herdar conflitos que não escolheu. Willa não é um símbolo; ela é uma consequência palpável de um mundo em esgotamento da revolução.

Apesar de alguns momentos em que a ambiguidade cede espaço à explicação excessiva, o saldo de “Uma Batalha Após a Outra” permanece provocador. Paul Thomas Anderson constrói uma narrativa que incomoda por se recusar a oferecer alívio moral, não havendo lados confortáveis, apenas sistemas falhos e pessoas tentando sobreviver a eles.

O filme termina sem apaziguamento, deixando a sensação incômoda de que nenhuma batalha realmente termina, apenas muda de forma. Essa perspectiva final reforça a ideia de que o esgotamento da revolução não é um ponto final, mas uma transição para novas e complexas lutas, tanto íntimas quanto sociais, moldadas pela radicalização.

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